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CONFIDÊNCIAS


Confidências

A lua, grávida do sol, bate na minha janela pedindo para adentrar pelo vidro, ao meu santuário, que é o meu quarto. Deixo que a sua luz invada e multiplique-se na calma luminosidade que a acompanha. Não é à toa que ela encanta a todos. Sob a sua timidez, o mundo dorme. Sinto-me acarinhada por ela e me entrego ao seu toque mágico e impalpável. Dou-me conta de que ela mexe no mais profundo de mim. Preciso de ternuras do mesmo jeito que preciso de pão. Essa lua que invade sem nenhum escrúpulo o meu pedaço de chão, pode não alimentar o meu corpo, mas a minha alma regozijada reflete-se em poesia, ainda que seja inacabada. Eu acho que a poesia é uma obra inacabada, sempre em construção, talvez por isso imperecível. Eterna em toda a sua magnitude. Ah, o que seria do mundo sem a poesia? E sem a poesia que emana da lua? Clarice Lispector me socorre e mostra que tenho razão quando diz: “Estive no reino do que é livre, respirei a magna solidão do escuro e debrucei-me à beira da lua”. Tão eu, essa quase lunática que, apaixonada sou alma confessa. Confidencio a ela, lua, meus sentimentos e sinto o seu abraço iluminado e sensual. Ela é a calma que me revigora.

Há tanto a falar ou a silenciar! Nem sempre a palavra é o suficiente. Às vezes é preciso hesitações verbais para saber o que se oculta atrás do explícito. Adoro o prazer e é ele que me salva da dor do tempo. Não permito que a sensualidade fuja das minhas mãos, ela deixa-me orgulhosa de ser mulher, a percorrer corajosamente as terras de dentro de mim. Estarei errada? Não faz mal. Assumo os meus erros e renovo-me interiormente. Escrevo meus sonhos. Ainda os verei paridos! Mário Quintana pergunta: “Que haverá com a lua que sempre que a gente a olha é com o súbito espanto da primeira vez”? Satisfaço-me prazerosamente ao ver que não é só minha esta dúvida. Continuo embevecida olhando-a. entrego-me à minha própria libertinagem de divagar languidamente. Ela continua ali a ouvir as confidências mudas do meu coração. Parece que me sorri. Redonda. Gorda de luz. Afaga-me os sentimentos.

Alimento o meu imaginário com atrevidas sensações. Como me apetece ter essa visita de quando em vez! Exibida! – Penso -, admirando a sua beleza. Alí estou liberta das vigilâncias alheias, enquanto ela, vaidosa, preenche com sua claridade o quarto numa invasão consentida. Por mais que deseje a minha janela aberta, me retraio, nem sei de quê. Vai ver não quero descobrir-me por completo. Continuo com um misto de sentimentos indefinidos. A hora pede repouso. Minhas confidências logo irão, alumiadas e guardadas, para sempre, no suspiro da noite vestida de negro. Logo a lua haverá de recolher-se para dar lugar ao dia. Deixarei meus traços marcados em algum lugar para serem lidos pelo luar. Este será o nosso segredo


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