top of page

PASSEIO NO OUTRO MUNDO


Passeio No Outro Mundo

Estávamos eu e uma prima, amiga de todas as horas, com quem eu dividi a minha adolescência, segredos, estudos, passeios etc. conversando alegremente na casa da minha avó, em Garanhuns, relembrando casos acontecidos e amigos. Eu já estava casada e morava em Recife, mas sempre que ia até a minha cidade continuávamos a nos encontrar. Conversa vai e conversa vem, resolvemos ir até o cemitério “visitar” a família e os amigos que se encontravam morando naquela cidade do para sempre. Isso já era um hábito nosso, todas as vezes que eu lá chegava. Visitávamos o cemitério. E lá fomos nós “visitar” os amigos. Ô falta do que fazer...

- Olha o túmulo de vovô. Coitado! Morreu tão novo, viveu tão pouco e era tão bom – dizia eu com olhos chorosos, lembrando um tempo bom da vida -. Minha prima, também saudosa, chamou-me para visitarmos os túmulos de alguns amigos, e lá fomos nós nos lamentando de tantas perdas. O cemitério São Miguel guarda belos mausoléus, além de um especial o do cantor Augusto Calheiros, em formato de violão, lembrando o grande seresteiro que fora. Alí nos demoramos mais um pouco. Exploramos aquele lugar místico onde estão guardadas as histórias de vida das pessoas que amamos. O último capítulo, na verdade, dessas histórias. O sol estava quente, anunciando o tardar das horas. Meio dia. Precisávamos voltar para casa, pois o almoço nos esperava. Dirigimo-nos ao portão e qual não foi nossa surpresa ao constatarmos que estava fechado. E agora? Olhávamos uma para a outra sem sabermos o que fazer. As pernas começaram a tremer, o coração batia feito um condenado e um suor frio percorria todo o meu corpo. Daí, a minha prima solta a frase que ninguém quer ouvir nessa hora:

- “dizem – fala ela séria olhando para os lados -, ‘que ao meio dia em ponto, todas as almas saem para passear pelo cemitério’. Nesse momento estamos cercadas por elas”... Bem que a danada podia ter ficado calada. E agora? Por onde sairemos? Que fazer?

Começamos a caminhar pelo cemitério procurando uma saída. De repente encontramos junto ao muro do lado contrário, um tanque de cimento com uma torneira. “O que será que lavam nisso aí”? – pergunta a prima agora já morrendo de medo também-, quero nem saber. Vou é subir para ver o que há do outro lado. E assim fiz. Havia uns homens trabalhando e umas crianças brincando. Que alívio! Fiz a prima pular o muro e em seguida fiz o mesmo. Mas aí começaram as indagações: - e se forem tarados? Estamos perdidas – dizia ela – de um lado, as almas, do outro, tarados, o que é pior? Vamos rezar? Vamos é embora daqui, isso sim – disse eu dirigindo-me aos homens e perguntando a saída. Quando todos pararam nos olhando com os olhos de quem vê assombração. Expliquei o ocorrido e eles nos apontaram a saída para onde fomos correndo. Quando nos sentimos seguras, na rua, olhamos uma para a outra e desatamos a rir, já nem nos incomodava os olhares de quem passava por nós. Nunca mais voltamos ao cemitério.


Posts em Destaque
Posts Recentes
Arquivos
Pesquisa por Tags
Siga-me
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page