ENCONTRO DE ALMAS
- Lígia Beltrão
- 2 de mai. de 2015
- 2 min de leitura

Encontro de Almas
Olhos nos olhos a dividirem a sublimidade do momento. Ela carregava estrelas luminosas a jogarem luz do seu olhar. Ele bebia o encantamento do instante, gota a gota, sorvendo cada gesto e cada suspiro que ela exalava. O silêncio se fazia escutar no cheiro do amor. As palavras foram guardadas para depois. A hora era de adoração. Os dedos dele percorriam o corpo dela, tecendo versos no cetim da sua pele. Ela, em espasmos, entregava-se às carícias. Ela, uma mulher a descobrir-se diante de uma nova vida. Ele, um homem entregue no seu olhar intenso. Penetrante. Descobria-se também.
É tempo de se olharem. De se conhecerem diante deles mesmos. As horas não se atrevem a incomodá-los. São únicos. O silêncio prevalece em respeito ao momento. O que deveriam pronunciar emudece. Evita-se o frêmito do desperdício das palavras inúteis. Com as mãos, ele sente a delicadeza do seu corpo. Seus traços são lidos por ele, como a desvendar o segredo de uma concha, em busca da pérola, com um cuidadoso carinho. Ela se entrega na doce sensualidade da fêmea rendida, mas que tem o poder de enternecer o homem. Ele quer essa mulher, que lânguida se entrega e que o arrebata pra si com a mesma intensidade. A intensidade do amor. Ela quer esse homem, que toca seu corpo arrepiando-o, em enlevos de eruditos gestos. Alí há uma canção de deuses a soprarem músicas do etéreo.
Clarice Lispecto já havia dito que: “O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado, o amor é tão inerente quanto a própria carência, e nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará continuamente.”
Ele, um homem afeito a rotinas e a previsões, de repente desvia-se dos seus dias para embevecer-se com os dias de riso e sol que se apresentam. Está ali, a sua mulher. A mulher que conquistou e guarda-a como preciosidade. Sente-a no olhar, no desejo, na certeza de saber-se homem completo. Percorre com o olhar o seu corpo relaxado e dá-se conta que seu peito arfa de incontroláveis desejos. Anula lembranças e pensamentos que possam atrapalhar o instante mágico da entrega. Como gosta de amá-la!
Ela, a mulher, aninha-se em seu abraço. Beijam-se. Gostariam de transformar esse momento em eterno. Parar o tempo. Palavra nenhuma exprimiria o sentimento deles. Ela se arruma comodamente em seu peito e fecha os olhos. Seu rosto acolhe as carícias dos dedos dele, como a catar estrelas. A luz do amor os ilumina. A aragem não penetra nesse quarto, agora mudo. Adormecem abraçados. O tempo já não encontra por onde esgueirar-se. Encolhe-se ao clamor daquela paixão. A beleza do instante imprime o caráter da eternidade. O dia nasce ignorando os corpos ainda fatigados de amor.
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