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ESTOU CHEGANDO LÁ...


ESTOU CHEGANDO LÁ...

De repente me dou conta do tamanho da minha estrada. Aquela, da vida, na qual caminhamos constantemente sem nos darmos conta do tanto que foi. E, quando paramos para pensar, santo Deus! A danada já foi caminhada um montão. Resta agora menos da metade do caminho. Como diria meu lado poeta (?), os pés estão cansados e feridos das pedras deste caminho, os calçados rotos e sem conserto, as lágrimas derramadas misturadas ao oceano das águas turbulentas das infinitas dores sofridas, os sonhos, muitos estagnados pelos não posso, alimentado pelo medo crescente, inerente a nós seres humanos, tão fracos de vontades. Incluo-me ai. Fui menina medrosa que conversava com árvores, porque as folhas destas seriam as “pessoas” que me ouviam fazer versos e recitá-los ao vento, e quando este queria mostrar-se zunindo nos talos e assobiando alegre, fazia todas as folhas baterem palmas. Sentia-me uma estrela. Quase uma do céu. E quando a noite chegava se fosse enluarada, corria a contá-las e a fazer pedidos bobos, na esperança que os céus os atendessem. O tempo foi passando e me dei conta que as estrelas não ouvem.


A vida, essa impiedosa, nos cobra e nos massacra com conceitos sociais, nos veste de pudores e nos pede palavras certinhas para escrevermos bem os dias. E nós, achando que nada somos ou temos, seguimos a procurar, sabe-se lá o quê? Pois bem, vamos aos enredados e ao emaranhado de teias das necessidades que nos impingem tais cobranças e de repente, na maioria dos casos, nos esquecemos de nós. Passamos a existir. Só. Existimos porque precisamos correr atrás “dum” monte de coisas, que é de bom tom usar ou está na moda e “todo mundo” tem. Ora, se todos têm vai ver que não é lá grande coisa, mas e vamos lá ficar pra trás? Nunca. Nosso orgulho não permite. Mesmo que não aja amor suficiente, há maridos (in) fiéis e esposas (in) felizes e filhos (des) obedientes, muitas vezes porque querem a liberdade que não aprendemos a ter. Rebeldes ou corajosos? Precisamos estudar cada caso. Enquadrei-me nesse esquema “tranquilo” e lutador do bem viver e driblar a vida de quando em vez, ao menos para gozar o que me era de direito, antes de enterrar cada morto, com minhas dores e silêncios sepulcrais. Mortos humanos e mortos sonhos.


O espelho do tempo, impiedoso, mostra a minha cara, agora, a mim mesma, e quase me desconheço. Não tenho mais a oliveira, que se findou tombada por um machado algoz e cruento, emudecendo e secando as folhas que me aplaudiam. Faz tempo que não olho nem conto estrelas, mas ainda lembro-me da lua e procuro-a nos seus plenilúnios. Não tenho mais tempo pra nada? Que é isso! Tá tudo errado. A vida verdadeira não se faz de correrias, de incertezas, de egoísmos, de procuras, de desamor, de solidões... A vida pode até ser uma busca, mas que seja por sentimentos. Deles, há de vir o melhor de cada um, o resto é consequência. Esse espelho mostrou-me os caminhos desenhados ao longo do percurso, tantos... Incontáveis. Dou-me conta que estou chegando lá. Lá onde? À terceira idade, ora bolas! A que amedronta tanta gente e faz pensarem que o caminho se findou. Não, esta é a nova etapa da vida em que se pode tudo. Ao menos eu penso assim e vou por em prática. Aguardem-me!


Vou caminhar mais devagar para esticar o tempo (?) ao menos terei mais tempo para mim mesma, para escrever meus muitos livros sonhados. Publicar o que tenho escrito e guardado na gaveta do “depois”. Cobrarei da vida tudo o que tenho direito. Cobrarei de mim o que deixei de fazer, de escrever, de crescer, para não ir de encontro aos que, na verdade, nunca souberam do meu valor. Ah, agora vou descontar o tempo perdido (?) e já comecei, pois estou escrevendo como nunca. Loucura... Sim, serei mais louca. Tomarei um porre qualquer dia. Vou até ler alguma revista erótica, falar algum palavrão... Claro! Preciso aprender a viver e para isso, conhecer esse “desconhecido” mundo que me cerca, mas que nunca ultrapassou o invólucro no qual me escondo. Vou passear por onde quiser e tomar banho de chuva e frequentar barzinhos. Comer sem hora certa, cachorro quente, e nem quero saber se não são saudáveis, batatas fritas, sorvetes, pipocas e refrigerantes. Vou trepar com o meu grande amor, quem disse que não encontrarei? Sabem de nada... Empanturrar-me de sexo, matar meus desejos. Aprenderei a dançar e serei da noite a estrela. Serei até mal falada... Phodam-se! Sempre fui certinha e nem me ligaram. Agora sou livre!


Esquecerei os velhos conceitos, quero nem saber dos preceitos, o mundo é o meu lugar. Vou procurar meu ponto G e podem crer que eu vou encontrar. E assim, GLORIOSA, GLAMOUROSA e GOSTOSA, serei uma eterna GOSADORA da vida. Quero nem saber de mais nada. Só quero terminar de caminhar a minha estrada, agora mais feliz e dona de mim mesma. Afinal, tenho todos os direitos acumulados na lei da vida e vou cobrá-los. E se estais ai, toda certinha, fingindo felicidade, orando na tua igreja, de rosto coberto, que é para ver a roupa da tua vizinha, almoças teu feijão com arroz, bife e salada porque é o normal, não trepas com ninguém, porque não gostas de sexo ou porque é pecado, coitada! Chega a minha idade e cai na real, enquanto dá tempo. Eu estou doidinha de felicidade, pois estou chegando lá... Mas, lá onde? Na terceira idade, ora porra, deu para entender? Se não entendeu fhoda-se também! Agora só vai dar eu... O tempo não espera por ninguém. Quando morrer, tomara que demore muito, gostaria que lessem na minha lápide a seguinte frase: “Aqui jaz uma grande escritora, que viveu muito, mas só começou a ser realmente feliz aos sessenta anos, quando criou asas e voou livre”.


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