top of page

PORTUGAL E SUAS ALDEIAS


Portugal e Suas Aldeias

O vento frio acariciava o meu rosto, nas manhãs cinzentas da Aldeia. As montanhas cobertas de verde choravam as lágrimas sufocadas nas pedras, escorrendo ladeira abaixo. Adiante, o rio gemia em espasmos de gozo, quando o sol declinava-se sobre ele cobrindo-o de luz. Estava chegando a primavera, e os campos cobrindo-se de pequenas flores exalavam a plenitude da vida. Fazia-me inveja a exuberância da simplicidade. Em algum galho, os pássaros orquestravam seus cânticos matinais, donos e senhores do tempo e do espaço. Pisei aquele chão coberto de flores, como se já fosse meu velho conhecido de outras tantas vidas. Incógnita. Sentimentos á flor da pele. A vida tinha cheiro de amor.

Lancei-me com a ousadia dos que não têm tempo a perder, a viver a vida que me resta. Perscrutei os sons do tempo. Vi-me agraciada com a vida pulsando ao derredor. Comi a brisa, com a fome dos que têm a certeza do pecado perdoado. E entreguei-me ao ritual de um namoro com a terra que me recebia regada a vinho e prazer. O frio reverenciava a vida. Os “esqueletos” - chamo assim os galhos podados dos parreirais -, nos campos começam a brotar e logo chegarão as vindimas, com o perfume das uvas a espalharem-se ao vento. A vida assim está sempre a recomeçar, pelos campos verdes dessa terra única, a exalar poesia. As taças coloridas de roxo vivo derramam-se em perfumes, dos vinhos celebrando a vida que se renova a cada instante. Sou leitora que “bebe” os acontecimentos invocando a felicidade perene de uma história única. Só eu a conheço. Só eu a leio.

Acordar nessas manhãs e ir tomar o pequeno almoço – café da manhã -, nas padarias ou cafés da cidade saboreando as torradas amanteigadas do lugar e o café forte e perfumado fumegando na chávena. Caminhar por suas ruas sem compromisso, engolindo o vento que assobia baixinho acariciando a pele marcada pelo frio. Após o almoço ir tomar a bica – cafezinho -, onde se encontra os amigos e se brinca e rir-se da vida por algum tempo jogando conversa fora. É tudo tão bom!

Quantas vezes eu enganei a mim mesmo, gritando a felicidade que eu sempre acreditei existir, porque ser feliz é fácil, e precisamos acreditar que somos capazes, e quando cremos nela, esta resolve realmente mostrar-se. É imprescindível que as coisas aconteçam, afinal estamos vivos para vivê-las. Transgredi as minhas próprias leis e vivi o improvável. Agarrei os meus sonhos e os transformei em histórias vivas. A vida carece de poesia, mas quem sou eu? Recordo Fernando Pessoa, quando diz em seu poema:

“Não sei quantas almas tenho.

Cada momento mudei.

Continuamente me estranho.

Nunca me vi nem acabei.

De tanto ser, só tenho alma.

Quem tem alma não tem calma.

Quem vê é só o que vê,

Quem sente não é quem é”


Vaticino novos caminhos. Sou esperança. É chegada a hora da plenitude da vida... Sopra-me o vento baixinho. Chegarei. Estou indo...

Posts em Destaque
Posts Recentes
Arquivos
Pesquisa por Tags
Siga-me
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page