RUAS DE PEDRAS
Ruas de Pedras
Coimbra! Antigo sonho que acalentei por anos. Finalmente chega o dia de ir conhecer esta cidade, berço do saber de Portugal, que tem o Rio Mondego a beijar-lhe os pés. Saio toda prosa, com saltos altos, sentindo-me a tal, claro, e eu lá desço do salto? E lá me vou arruar por estas ruas de tantas histórias. Vejo coisas lindas. Aprendo outras tantas. Encanto-me com os alunos da Universidade e seus mantos negros estendidos sobre os ombros, mostrando-me o tamanho respeito às tradições, vendendo cartões para arrecadarem fundos para algo referente aos cursos, talvez a festa de formatura. Sou alumbramento e encantada caminho desfilando o meu imaginário charme brasileiro, como se fosse a dona do mundo. Ao menos, sou dona dos meus sonhos, ora! Belas ruas calçadas com pedras irregulares contam-me seculares casos e histórias. Belas e escorregadias pedras. Quem diria que eu as beijaria?!
O município é limitado a norte pelo município da Mealhada, a leste por Penacova, Vila Nova de Poiares e Miranda do Corvo, a sul por Condeixa-a-Nova, a oeste por Montemor-o-Velho e a noroeste por Cantanhede. É considerada uma das mais importantes cidades portuguesas, devido a infraestruturas, organizações e empresas para além da sua importância histórica e privilegiada posição geográfica no centro da espinha dorsal do país. A cidade de Coimbra é também referência nas áreas do Ensino e da Saúde. O feriado municipal ocorre a 4 de Julho, em memória da rainha Santa Isabel de Aragão, padroeira da cidade. Foi Capital Nacional da Cultura em 2003 e é uma das cidades mais antigas do país, tendo sido capital do Reino, e apresenta como principal ex-libris a sua Universidade, a mais antiga de Portugal e dos países de língua portuguesa, e uma das mais antigas da Europa.
Após ver a magnitude da tão conhecida Universidade de Coimbra, desço por suas ruas, abobalhada com a beleza do lugar. Sou uma turista metida à senhora de si, pensando que tem o mundo aos pés. Ou melhor, nos saltos altos. Numa esquina daquelas, uns trabalhadores fazem algum serviço na rua. De repente vejo um ônibus, enorme, vindo à minha direção e olho-o feito uma abestalhada... Meu Deus! Que foi isso? Já não sabia o que estava acontecendo. Tentei levantar-me, em vão, o mundo girava ao redor de mim. Meu companheiro olha-me assustado. Pudera... Dois enormes braços, de avantajados bíceps de operário, presos a um cara alto estão a apanhar-me do chão. Olho-o surpresa:
- Poxa! Eu caí – falo sem saber o que dizer, e ainda com uma unha raspada. Ô pedra danada! Por que estava bem no meu caminho? Graças a ela, a pedra, eu estava estatelada no chão, feito uma Maria mole.
-Machucou-se? – pergunta-me o grandalhão –
E eu, ainda sem entender nada respondo sentindo a mão doer e o corpo meio trêmulo:
- Não. Não me machuquei. Obrigada! Só raspei a unha e a ponta do dedo sangra um pouco – falei olhando pra cima, pois o cara era grande -, logo passará...
Agradeci a presteza com a qual me ajudou e continuei meu caminho até chegar ao meu destino e ir à casa de banho, lavar-me e colocar um curativo no dedo. Dei-me conta de que estou ficando madura... Ó constatação! Pobre de mim “estabacada” no chão de Coimbra sobre pedras seculares. Ao menos tive o bom gosto de ir cair em Portugal e ser amparada por um operário de braços fortes. Beijei o chão de Coimbra graças ao meu salto alto. Ora, a gente cai e levanta... E lembrando o magnífico Miguel Torga:
“Agora,
o remédio é partir discretamente,
sem palavras,
sem lágrimas,
sem gestos.
De que servem lamentos e protestos,
contra o destino?”
Foi o que fiz. Levantei e continuei meu passeio e a descobrir histórias... Aquelas que se guarda no coração. Para sempre. Realizada e feliz, voltei para casa. No dia seguinte me doía todo o corpo, a mão, a ponta do dedo arrancado o pedaço, mas estava feliz e de salto alto. Isso é o que chamo, literalmente de não descer do salto.
Continuei a passear e a namorar Portugal. Tenho com ele um pacto de amor.
Lígia Beltrão